26 de fevereiro de 2014


Roubei e amei!

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  Gente passeando pelos blogs que amo, eis que me deparo com o blog http://www.smallfashiondiary.com/2014/02/um-sonho-de-liberdade.html

Tive que vir aqui repassar porque é exatamente como me sinto e, o que sinto:

Claro que, como toda mulher, tenho minhas inseguranças (o culote, as rugas, as celulites, etc). Mas em geral sou muito segura, transparente e verdadeira, a ponto de intimidar quem me conhece pessoalmente. Essa autoestima equilibrada tem um efeito que muitas pessoas admiram e outras acham pavoroso: a capacidade de tocar um foda-se gigante pro que os outros pensam. 



E isso não quer dizer que eu não levo em consideração a opinião das pessoas que me amam e me conhecem. Levo sim. Escuto, analiso, cedo, aceito pitacos. Isso apenas quer dizer que existem esferas da minha vida que não dizem respeito a ninguém. Uma dessas esferas é a da minha vontade. Quantas vezes escutei que não deveria fazer tatuagem. Fiz. Que não deveria usar saia longa por ser baixinha. Usei. Que não deveria ficar com fulano. Fiquei. Que não deveria trocar o conforto pelo incerto. Troquei. E fiz e continuarei fazendo a minha vontade por que eu sou LIVRE e exerço essa liberdade sobre minha vida, corpo, profissão e destino. Não fui mimada, fui consciente de que, desde que a minha liberdade não invada o espaço do outro, então eu posso tudo.

O Brasil tem uma peculiaridade cultural impressionante: as mulheres aprendem a falar mal umas das outras desde muito cedo. É a celulite, a barriga, o cabelo, a unha, a pele, a roupa, etc. Lembram daquela campanha linda da Dove, Real Beauty Sketches? Só deu certo por que não foi aqui. Se fosse no Brasil, diante do espírito crítico-destrutivo de tantas mulheres, as moças desenhadas sairiam dali direto pro psicólogo. Nós somos diariamente vítimas do próprio gênero e até quem é linda e malhada e alta e magra, sempre tem alguém pra falar besteira. SEMPRE. E isso não é "liberdade de opinião" não tá? É maldade e falta de educação mesmo.

Justo nós, que fomos (e ainda somos) tão maltratadas por uma sociedade machista, que somos definidas pelo sexo, somos as primeiras a ter esse comportamento cafona de julgar, nas outras mulheres, o que nem o homem mais troglodita é capaz de ver. Não gente, não é a só a indústria da moda que "dita" padrões de beleza. Quem endossa esses padrões, estimula também. Lembram de Tropa de Elite? "O cara que consome e dissemina a droga, é tão parte do tráfico quanto o traficante." Com a moda é igual. Quem apoia/defende os discursos ditadores da moda, do que você pode ou não usar é tão conivente quanto quem cria esses padrões e, adivinhem só, depois essas mesmas pessoas viram vítimas no primeiro momento em que decidem pensar "fora da caixa". Isso me dá vergonha por quem pensa assim e alegria por perceber que várias moças lindas que amam moda como Dani, Lia e Ana, estão batendo na mesma tecla: respeite o outro e respeite quem você é.

Somos castradas em tantas esferas e, quando temos a "ousadia" de exercer nossa liberdade, ainda que seja num mero look do dia, sempre tem alguém pra julgar de novo e de novo e de novo. Como se tudo na vida se resumisse a uma roupa. Como se a pessoa fosse tirada do contexto e definida pelo que veste e fosse privada do direito de ser criativa, diferente ou inusitada. Que lástima.

Quando criei o blog, às vezes me sentia verdadeiramente ofendida e triste com muitos comentários. Hoje vejo sob uma perspectiva diferente. O problema é cultural e, apesar de ultrapassar minha capacidade de compreensão, não me atinge mais. Sim, o Brasil é culturalmente tacanho e, no meio de tanta diversidade, é impressionante a quantidade de preconceito que existe dentro deste território. Em pleno século 21 preferimos continuar pensando como nossas avós, cheias de julgamentos e condutas hipócritas. Porque é cômodo. Porque ninguém vai olhar atravessado. Porque o espelho vai ficar confortável com a nossa imagem. Porque os homens não vão se sentir intimidados. Porque você não vai ser gongada no Blogueira Shame. Porque a internet anônima não vai te humilhar em praça pública. Porque, porque, porque. Porque a liberdade incomoda, estranha, nos tira do lugar comum e nos coloca no volante da nossa própria vontade. E nem todo mundo sabe dirigir.

"É preciso coragem pra sair assim de casa." Não. É preciso coragem pra dividir sua vida com outra pessoa. É preciso coragem pra largar tudo em busca de um sonho. É preciso coragem pra tirar um filho ou ter um filho, lutar contra uma doença. Pra usar uma roupa, qualquer roupa, e se sentir plena com ela independente de julgamentos, é preciso apenas ser LIVRE a liberdade tem um preço muito alto que a pobreza de espírito não consegue pagar. 

Por isso, mulheres, sejamos ricas! E livres.

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