Gente passeando pelos blogs que amo, eis que me deparo com o blog http://www.smallfashiondiary.com/2014/02/um-sonho-de-liberdade.html
Tive que vir aqui repassar porque é exatamente como me sinto e, o que sinto:
Claro que, como toda mulher, tenho minhas
inseguranças (o culote, as rugas, as celulites, etc). Mas em geral sou muito
segura, transparente e verdadeira, a ponto de intimidar quem me conhece
pessoalmente. Essa autoestima equilibrada tem um efeito que muitas pessoas
admiram e outras acham pavoroso: a capacidade de tocar um foda-se gigante
pro que os outros pensam.
E isso não quer dizer que eu não levo em
consideração a opinião das pessoas que me amam e me conhecem. Levo sim. Escuto,
analiso, cedo, aceito pitacos. Isso apenas quer dizer que existem esferas da
minha vida que não dizem respeito a ninguém. Uma dessas esferas é a da minha
vontade. Quantas vezes escutei que não deveria fazer tatuagem. Fiz. Que não
deveria usar saia longa por ser baixinha. Usei. Que não deveria ficar com
fulano. Fiquei. Que não deveria trocar o conforto pelo incerto. Troquei. E fiz e
continuarei fazendo a minha vontade por que eu sou LIVRE e exerço essa liberdade
sobre minha vida, corpo, profissão e destino. Não fui mimada, fui consciente de
que, desde que a minha liberdade não invada o espaço do outro, então eu posso
tudo.
O Brasil tem uma peculiaridade cultural
impressionante: as mulheres aprendem a falar mal umas das outras desde muito
cedo. É a celulite, a barriga, o cabelo, a unha, a pele, a roupa, etc. Lembram
daquela campanha linda da Dove, Real Beauty
Sketches? Só deu certo por que não foi aqui. Se fosse no Brasil,
diante do espírito crítico-destrutivo de tantas mulheres, as moças desenhadas
sairiam dali direto pro psicólogo. Nós somos diariamente vítimas do próprio
gênero e até quem é linda e malhada e alta e magra, sempre tem alguém pra falar
besteira. SEMPRE. E isso não é "liberdade de opinião" não tá? É maldade e falta
de educação mesmo.
Justo nós, que fomos (e ainda somos) tão
maltratadas por uma sociedade machista, que somos definidas pelo sexo, somos as
primeiras a ter esse comportamento cafona de julgar, nas outras mulheres, o que
nem o homem mais troglodita é capaz de ver. Não gente, não é a só a indústria da
moda que "dita" padrões de beleza. Quem endossa esses padrões, estimula também.
Lembram de Tropa de Elite? "O cara que consome e dissemina a droga, é tão
parte do tráfico quanto o traficante." Com a moda é igual. Quem
apoia/defende os discursos ditadores da moda, do que você pode ou não usar é tão
conivente quanto quem cria esses padrões e, adivinhem só, depois essas mesmas
pessoas viram vítimas no primeiro momento em que decidem pensar "fora da caixa".
Isso me dá vergonha por quem pensa assim e alegria por perceber que várias moças
lindas que amam moda como Dani,
Lia
e Ana,
estão batendo na mesma tecla: respeite o outro e respeite quem você é.
Somos castradas em tantas esferas e, quando
temos a "ousadia" de exercer nossa liberdade, ainda que seja num mero look do
dia, sempre tem alguém pra julgar de novo e de novo e de novo. Como se tudo na
vida se resumisse a uma roupa. Como se a pessoa fosse tirada do contexto e
definida pelo que veste e fosse privada do direito de ser criativa, diferente ou
inusitada. Que lástima.
Quando criei o blog, às vezes me sentia
verdadeiramente ofendida e triste com muitos comentários. Hoje vejo sob uma
perspectiva diferente. O problema é cultural e, apesar de ultrapassar minha
capacidade de compreensão, não me atinge mais. Sim, o Brasil é culturalmente
tacanho e, no meio de tanta diversidade, é impressionante a quantidade de
preconceito que existe dentro deste território. Em pleno século 21 preferimos
continuar pensando como nossas avós, cheias de julgamentos e condutas
hipócritas. Porque é cômodo. Porque ninguém vai olhar atravessado. Porque o
espelho vai ficar confortável com a nossa imagem. Porque os homens não vão se
sentir intimidados. Porque você não vai ser gongada no Blogueira Shame. Porque a
internet anônima não vai te humilhar em praça pública. Porque, porque, porque.
Porque a liberdade incomoda, estranha, nos tira do lugar comum e nos coloca no
volante da nossa própria vontade. E nem todo mundo sabe dirigir.
"É preciso coragem pra sair assim de
casa." Não. É preciso coragem pra dividir sua vida com outra pessoa. É
preciso coragem pra largar tudo em busca de um sonho. É preciso coragem pra
tirar um filho ou ter um filho, lutar contra uma doença. Pra usar uma roupa,
qualquer roupa, e se sentir plena com ela independente de julgamentos, é preciso
apenas ser LIVRE a liberdade tem um preço muito alto que a pobreza de espírito
não consegue pagar.
Por isso, mulheres, sejamos ricas! E
livres.
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